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quarta, 01 de março de 2017

BRASIL COMEÇA A DEIXAR A SUA PIOR CRISE PARA TRÁS

O Brasil do início de 2017 é muito diferente daquele de um ano atrás. O desespero generalizado que levaria ao impeachment da presidente Dilma dá lugar, agora, à serenidade e à reconquista da confiança. Essa é a síntese da exposição do economista com mestrado na Espanha e Estados Unidos e professor da Fundação Getúlio Vargas, Arthur da Igreja, quinta à noite a empresários na Acic sobre Cenário econômico para 2017. O Brasil, afirmou ele, começa a deixar para trás a pior crise econômica, ética e política dos seus mais de 500 anos de história.
Arthur empregou uma frase do ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan, para lembrar do momento avassalador que os brasileiros viveram principalmente nos primeiros meses do ano passado: “No Brasil, até o passado é imprevisível”. A dívida pública, a crise aguda, o desemprego nas alturas e a explosão do câmbio compunham um panorama de enorme preocupação. O economista traçou paralelos entre 2013 e 2016 para explicar o caos. O endividamento do País saiu de 50% do PIB para mais de 70% e a dívida, três anos antes, era arrolada a uma taxa anual de 7% contra 14% em 2016.
O Brasil tem um talento incrível para reproduzir cenários e, ao contrário de outros países, insiste em não aprender com seus erros e tropeços. O que se viu nos últimos anos é a repetição da primeira metade da década de 1990, quando o presidente Fernando Collor de Mello foi cassado, Itamar Franco assumiu para mandato tampão e então, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, coube a FHC controlar a inflação e adotar medidas que ajustariam e afinariam a economia. “Tivemos há pouco o impeachment de Dilma, Michel Temer como tampão e em menos de dois anos haverá nova eleição presidencial”. Mas a grande incógnita é saber quem, a essa altura, terá condições de repetir o bom momento produzido por Fernando Henrique.
Diversos indicadores confirmam que a atual é a pior crise da história brasileira. O recuou em menos de três anos chega a 10%, contra redução do PIB em 8% no início dos anos de 1980 e de queda de 5% na segunda metade daquela década. Embora o País já esteja em recuperação, o pior desastre neste momento, conforme Arthur da Igreja, seria um novo impeachment. “Em vez da mensagem de que o País está juntando os cacos, viraríamos a piada do mundo”.
Se no campo econômico o cenário é de retomada da confiança, no político é de severa instabilidade. Dois aspectos em particular preocupam os analistas: o teor da delação do empreiteiro Marcelo Odebrecht, que só em propina teria pago mais de R$ 3 bilhões a políticos e a outros líderes, e a potencial cassação da chapa Dilma/Temer.
Rumo certo
A tragédia brasileira começou no segundo governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva. No primeiro, ele manteve o crescimento porque o Brasil estava com seus fundamentos acertados e ele decidiu não fazer nada. Mas a passividade cessou e Lula acabou mexendo em pilares preciosos, levando ao caos gradativo que revelou toda a sua intensidade com Dilma Rousseff. “A reeleição de Dilma foi um grande aprendizado para o País. Porque se o Aécio Neves tivesse vencido, ele enfrentaria problemas gravíssimos, seria cassado e a esquerda diria então que foi a direita que quebrou o Brasil”.
A correção poderia ter começado antes, mas foram necessários meses para que Temer, então interino, fosse confirmado presidente. As medidas adotadas em apenas seis meses de gestão são contundentes e mostram o enorme potencial de recuperação do País. A primeira grande medida foi a aprovação da PEC do teto de gastos. Nada mais é, segundo Arthur, que fazer com que o governo gaste somente o que arrecada. O Estado é enorme. Sozinho, detém 48% do patrimônio nacional e responde por apenas 23% da atividade econômica. Com 52%, o setor privado e os trabalhadores movimentam 77% do PIB.
Previdência
Todas as mudanças em andamento, que são imperiosas e acalmam o mercado, dependem de um fator primordial, a reforma da Previdência. “Sem ela, todo o resto desanda”, conforme Arthur. A Previdência brasileira é uma das três mais generosas do mundo, sem citar os enormes excessos e discrepâncias que ela contém. Aqui, as pessoas se aposentam em média com 57 anos enquanto que a média no mundo é de 66. Por isso, elevar a idade é tão importante, porque do contrário o sistema estará totalmente inviabilizado em pouco tempo. A queda na inflação, que saiu do teto de 11,7% e chega a 5%, e o recuou do dólar, que esbarrou em R$ 4,20 e baixou para a casa dos R$ 3, demonstram que a confiança retorna. E QUE os investidores estrangeiros voltam a se interessar pelo Brasil.
Arthur afirma que, diante de todo o contexto, a possibilidade de crescimento de 0,5% a 1% em 2017 precisa ser comemorada com euforia. “É a surpreendente demonstração de reação do Brasil”. No segundo semestre, os cortes nas taxas de juros poderão ser ainda maiores, contribuindo para a retomada do crescimento, ao retorno do investimento e então à abertura de novas vagas de trabalho. Se tudo correr bem, principalmente no campo político, o economista prevê que 2018 será um ano de crescimento consistente. “Mas, como no Brasil até o passado imprevisível, toda perspectiva de otimismo pode, em um movimento inverso, ser colocada por terra”, alerta o professor da FGV.
Ao mesmo tempo em que promove, de forma determinada, ajustes na direção certa, o Governo Temer adota medidas consideradas de grande impacto. Uma delas foi a decisão de liberar R$ 30 bilhões do FGTS que estavam parados. Com esse dinheiro, as famílias vão acertar suas dívidas e então, lentamente, voltarão a consumir. Ao mesmo tempo em que dá um refresco à economia, a medida melhora a situação dos bancos estatais – Caixa e Banco do Brasil – de possível aporte de capital. Além desses ajustes todos, outros devem ocorrer a partir das empresas, entre eles elevar a produtividade e a competitividade. A exceção de excelência é o agronegócio, que é imbatível da porteira para dentro, conforme Arthur.
O economista também falou de desafios e oportunidades com mudanças no tabuleiro político mundial, como a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, da saída do Reino Unido do bloco europeu e da possibilidade de vitória da direita em países importantes, como a França. O Brasil também precisa repensar o tamanho do Estado e investir mais em novas tecnologias. Arthur deu um dado que mostra a força desse segmento: nos últimos três anos, 183 empresas ficaram bilionárias no mundo, enquanto que em 2010 apenas uma. Dessas, a grande maioria está ligada às inovações oriundas do mundo digital.

Fonte: acicvel.com.br

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