Artigo Econômico: Cenário de crise e reinvenção: como as tarifas de Trump abalam o Paraná e abrem portas para novas oportunidades
terça, 09 de setembro de 2025
CACIOPAR
A recente decisão do governo Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos trouxe um abalo considerável nas conversas de empresários e associações comerciais. Embora o tema pareça distante quando anunciado em Washington, seus efeitos já começaram a se materializar nas empresas do Paraná. A madeira, que responde por quase metade das exportações paranaenses para o mercado norte-americano, foi atingida em cheio. Serrarias e fábricas diversas que tinham contratos consolidados com os EUA precisaram suspender embarques, reduzir turnos e até fechar unidades. A notícia da paralisação da Millpar, de Quedas do Iguaçu, por exemplo, mostrou de forma concreta o que até então soava como uma disputa comercial entre países. O impacto não se restringe ao balanço das exportadoras, mas se espalha para toda a cadeia: fornecedores de insumos, prestadores de serviços logísticos e até pequenos negócios locais que dependem da circulação de renda desses trabalhadores já sentem os reflexos.
No setor de proteínas, o efeito é mais indireto, mas igualmente preocupante. A carne bovina brasileira, que nos últimos anos vinha ganhando espaço nos Estados Unidos, perdeu competitividade diante do aumento abrupto da tarifa. Como consequência, frigoríficos voltam seus embarques para outros mercados, pressionando a concorrência nas praças onde já atuam. Esse movimento joga preços para baixo e cria uma competição mais acirrada para aves e suínos, justamente os carros-chefes das cooperativas do Oeste paranaense. Empresas como Copacol, Lar, C.Vale e Frimesa, embora não tenham os EUA como destino central de suas exportações, sentirão a disputa de forma indireta. É como em uma feira: se um vendedor é obrigado a mudar de barraca, os demais precisam dividir espaço com ele, e os preços tendem a cair para todos. No caso das cooperativas, que dependem do equilíbrio entre custos e receitas em escala gigantesca, uma pequena redução de margem pode significar milhões a menos no resultado anual. Os efeitos de segunda ordem também se manifestam em áreas que, à primeira vista, parecem distantes da decisão de Trump. Indústrias químicas e de resinas, cujos contratos com clientes norte-americanos foram suspensos, impactam cadeias inteiras ligadas ao setor de embalagens, conservação de alimentos e até materiais de construção. O Oeste do Paraná, que concentra grandes cooperativas exportadoras, depende de embalagens de alta qualidade e de insumos químicos específicos. Quando essas cadeias se veem pressionadas, o custo do produto aumenta e a competitividade internacional cai ainda mais. É um jogo de dominó em que a peça derrubada não é apenas a da exportadora que perdeu o contrato, mas também a da transportadora local, a do produtor de insumos e, em última instância, a do pequeno comércio que vive do movimento da região. O quadro, portanto, exige dos empresários uma leitura mais atenta e menos reativa. Não se trata de entrar em pânico ou imaginar que todo o mercado internacional está fechado. Trata-se de reconhecer que o ambiente de negócios se tornou mais instável e que a antecipação de cenários é um diferencial vital. Quem atua na madeira precisa abrir canais imediatos com a Europa e o Oriente Médio, aproveitando certificações de sustentabilidade como porta de entrada. Já as cooperativas de proteína animal precisam acelerar estratégias de diferenciação, apostando em produtos processados e de valor agregado para fugir da simples disputa de preço. No setor de insumos, vale fortalecer parcerias regionais e buscar alternativas em países que mantenham relações comerciais estáveis com o Brasil. A lógica é simples: em tempos de incerteza, quem diversifica fontes e mercados reduz riscos e aumenta chances de sobrevivência.
Apesar de tudo, há um lado positivo que não pode ser ignorado. As crises costumam acelerar a profissionalização da gestão e a busca por alternativas criativas. O Oeste do Paraná já provou, em outras ocasiões, sua capacidade de reinvenção e de união em momentos adversos. O cooperativismo da região é exemplo mundial de resiliência, justamente porque nasceu da necessidade de transformar dificuldades em oportunidades. Agora, diante da barreira erguida pelos Estados Unidos, não é diferente. Os empresários que olharem para frente, identificarem novos mercados e ajustarem sua estratégia de forma planejada terão a chance de sair mais fortes. E aqui cabe uma reflexão necessária: os Estados Unidos estão errados? Ora, lembremos que o Brasil também taxa muitos produtos de muitos países… tente comprar, desde um simples computador da Amazon.com americana até uma grande máquina industrial, e verá a mágica da taxação pelo lado do taxador. A diferença é que, quando somos atingidos, sentimos a dor mais de perto, mas o jogo sempre teve regras de mão dupla. O importante é não ficar parado, nem se desesperar: é agir com calma, clareza e coragem, lembrando que, na história econômica do Oeste do Paraná, foi sempre nos momentos de crise que surgiram os maiores saltos de crescimento.
Quem hoje aplaude medidas de retaliação pode não perceber que, no longo prazo, a conta chega para todos: menos mercados, menos competitividade e um país inteiro arcando com custos mais altos. Este é o momento de buscar parceiros e até concorrentes para agir em bloco. O associativismo amplia voz, organiza demandas e fortalece o poder de barganha. Em tempos de barreiras comerciais, união é estratégia de sobrevivência e pode transformar a crise em oportunidade compartilhada.
Autor: Claudio Antonio Rojo, é administrador, professor da UNIOESTE, com pós-doutorado em Finanças, na área de mercado de capitais, pela FEA - Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo. Criador do Método Rojo de Simulação de Cenários. Autor de diversos livros nas áreas de negócios. Contato: (45)999711570. Instagram: prof.rojo
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