Caciopar
segunda, 03 de julho de 2017
O cooperativismo como uma força transformadora
Irineo da Costa Rodrigues
Apesar dos desafios crônicos que enfrenta há séculos, o Brasil conta com segmentos que são sucesso e que podem contribuir para que o País deixe um longo e doloroso ciclo de retração de seus potenciais. Um deles é o cooperativismo, que há seis décadas promove transformações intensas e consistentes no Oeste e no Paraná. “Mas para isso, em vez de fiscalizador e arrecadador, precisamos de um governo que assuma e seja responsável com seus compromissos e responsabilidades”, diz o presidente de uma das mais bem-sucedidas cooperativas agroindustriais brasileiras, Irineo da Costa Rodrigues.
A Lar Cooperativa Agroindustrial, de Medianeira, foi constituída em 1964 por um grupo de 55 agricultores. “Tinham um sonho comum. Planejaram, trabalharam e venceram”, diz Irineo, que participou como debatedor de recente talk show organizado pela Caciopar sobre cenários econômico e político do Brasil. Hoje, 53 anos depois, a empresa tem 10,2 mil cooperados e gera 9,2 mil empregos. O faturamento previsto para 2017 é de R$ 5,4 bilhões. Devido aos custos com transporte, entre outros, o perfil das cooperativas da região tem mudado nos últimos anos. Em vez de exportadoras de grãos, elas transformam e agregam valor a matéria-primas que então são vendidas prontas para consumo.
A união, o planejamento, o respeito ao próximo e a serenidade são alguns dos alicerces do cooperativismo, que se notabiliza também pela sua característica de grande distribuidor de renda e riquezas. Mas para alcançar resultados, os investimentos precisam ser contínuos, conforme Irineo. Atualmente, 80% dos cooperados têm área inferior a 50 hectares. Eles contam com uma enorme estrutura de recepção de grãos e orientação técnica de qualidade. A Lar ainda conta com 12 indústrias, 15 supermercados e 7 postos de combustíveis. Devido à sua forte veia industrial, 70% dos grãos que a empresa recebe e processa vêm do Mato Grosso do Sul. “Hoje, exportamos para 67 países”, conforme o diretor-presidente.
Mesmo com a crise que teve seu auge em 2016, o ano passado foi o de melhor resultado da história da Lar. “Isso demonstra a força e a solidez dos fundamentos que dão suporte a esse grande projeto”, segundo Irineo da Costa Rodrigues. Para manter sua rota de crescimento e seguir planejamento para os próximos dez anos, a cooperativa investe continuamente em cursos de aperfeiçoamento e em áreas como o meio ambiente. “Nossa preocupação com a natureza é enorme. Só para citar um exemplo, os recursos empregados reduziram a utilização de água por abate de cada frango de 35 para 22 litros. E a meta é diminuir ainda mais”, segundo o presidente.
Sobressaltos
Mesmo com estruturas tão consolidadas, as cooperativas também sentem os reflexos da falta de políticas e atitudes comprometidas do governo. “Vivemos de sobressaltos”, diz Irineo, para citar um dos mais recentes e que trouxe enorme prejuízo à economia nacional. A Operação Carne Fraca, citou ele, apurou irregulares em alguns poucos frigoríficos, mas a maneira como a informação foi exposta generalizou o problema e as perdas foram sérias. “A falta de zelo expôs um setor vital à economia nacional”, segundo o presidente da Lar, alertando que, para a reconstrução do País, o governo e os homens públicos precisam assumir e honrar compromissos por mudanças.
O cooperativista falou da enorme carga de impostos paga pelos brasileiros, má gestão, desperdício e corrupção que acabam por asfixiar toda a economia. O Oeste, seguiu Irineo da Costa Rodrigues, é um centro produtor distante dos principais polos de consumo e de estruturas de embarque ao comércio exterior, a exemplo do Porto de Paranaguá. “Por isso, precisamos refletir e, com base nos números e no bom-senso, investir em modais que potencializem nossa competitividade e não o contrário”. O presidente da Lar afirmou que a região precisa de uma nova ferrovia que leve ao litoral, moderna e que funcione. “E devemos nos unir, porque, infelizmente, há muitas pessoas e interesses trabalhando contra o Oeste”, lamentou Irineo.
Com o devido planejamento, o lago e a Itaipu poderiam contribuir ainda mais para o desenvolvimento da região e do Brasil. “Poderíamos ter ali uma imensa hidrovia, com significativa redução de custo de frete, programas de irrigação e de energia trifásica mais em conta para quem quer produzir, gerar empregos e desenvolvimento”, ressaltou Irineo. Somente com menos burocracia, reformas, redução de custos e segurança jurídica e que as empresas voltarão a contratar e a tirar o País de sua mais dura crise.
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